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Reportagem Especial - 12 |
Sex, 30 de Outubro de 2015 14:06 |
Projeto SOMA: soma de saberes que envolve mais de 600 famílias brasileiras, 70 alunos e 06 professores do Campus Muzambinho.O Projeto SOMA é um dos maiores projetos de extensão do IFSULDEMINAS. Atualmente, atende cerca de 610 famílias em três estados brasileiros (Minas Gerais, Paraná e São Paulo). Sob a orientação de seis professores e dois técnico-administrativos, esse trabalho envolve a participação de 71 estudantes de seis cursos diferentes do Campus Muzambinho. A iniciativa realiza ações para atender famílias de cafeicultores por meio de assistência técnica, difusão tecnológica, extensão rural em bases sustentáveis e apoio à agricultura familiar certificada. Ao mesmo tempo, os estudantes que participam têm a oportunidade prática para aprender e repassar conhecimentos sobre diversas áreas de trabalho, como manejo, cultivo, controle de pragas e doenças, segurança do trabalho, legislação ambiental, qualidade do café, saúde e bem-estar dos familiares atendidos e outros aspectos. A proposta começou em 2009 numa disciplina de extensão rural, ministrada pelo professor, idealizador e coordenador do Projeto SOMA, prof. José Marcos Angélico de Mendonça (foto abaixo). “Não adiantaria sermos uma referência longe da sociedade. Precisamos ir até os produtores. Nossos alunos têm de saber a teoria dos laboratórios, mas também saber lidar com o público que vai encontrar depois de formar. Por isso, é muito nítida a formação diferenciada que esse trabalho oferece aos alunos que participam do projeto”, conta o prof. José Marcos. Para oferecer esse atendimento diversificado às famílias atendidas, o trabalho envolve estudantes e professores de diferentes áreas do conhecimento. São 33 alunos do curso de Engenharia Agronômica e Tecnologia em Cafeicultura, oito de Ciências Biológicas, dez do técnico em Segurança do Trabalho, dez do técnico em Enfermagem e dez do técnico em Meio Ambiente. Atualmente, o Projeto SOMA atende famílias nas cidades de Cabo Verde, Muzambinho, Santana da Vargem, Fama e Paraguaçu (MG), Caconde (SP) e também de 12 núcleos de agricultores do Norte Pioneiro do Paraná. Ainda que algumas realidades sejam muito próximas, as demandas de cada região são diferentes. Por conta disso, os alunos são divididos em diferentes grupos para realização do trabalho. Visitas individuais, palestras, dias de campo e minicursos são organizados e ministrados pelos estudantes que integram o projeto. A intenção é oferecer uma assistência puramente técnica aos cafeicultores. O Projeto SOMA acontece por meio de parceriasO trabalho é realizado somente por meio de convênios firmados entre o Campus Muzambinho e associações cafeeiras. Para isso, é assinado um documento com termos de responsabilidade que garantem o compromisso e o comprometimento dos produtores atendidos com as ações que serão desenvolvidas pelos estudantes do projeto. Atualmente, seis associações possuem convênios com o Campus Muzambinho (confira aqui mais informações sobre a assinatura dos convênios):
A dinâmica de trabalho é específica em cada grupo. No início de cada ano, uma reunião é marcada com os estudantes e produtores para definir um cronograma de ações que serão desenvolvidas ao longo do ano. Com esse planejamento e o apoio da Direção do Campus Muzambinho, os estudantes são levados a um determinado ponto de cada região atendida. Ali recebem um roteiro de visita com cada propriedade a ser visitada. A partir daí, os próprios produtores oferecem transporte, alimentação e pernoite – se necessário for – aos alunos que visitarão as lavouras. Os alunos são recebidos nas casas dos produtores atendidos“Minha primeira ação no projeto foi em 2012 e fiquei na parte de assistência do núcleo de Cornélio Procópio do Paraná. No início, foi uma insegurança muito grande ficar numa casa de um produtor que você nem conhece, que você não sabe que horas vai comer, vai dormir. E, na verdade, eu só me surpreendi. A gente recebe um carinho muito grande, todos são muito acolhedores e foi sempre assim em cada casa visitada”, contou Denis Henrique Silva Nadaleti (direita), extensionista da Engenharia Agronômica que atuou há dois anos no projeto SOMA. Esse depoimento foi feito em novembro do ano passado, quando o estudante cursava o último período do curso e, por conta da formatura, estava se despedindo dos produtores que ele atendeu durante o tempo que atuou no projeto: “Depois da primeira visita, eu já me senti em casa e não via a hora de voltar novamente. Foi uma segunda família pra mim e está sendo difícil me despedir. Muito melhor que a parte técnica da assistência, é a família que você constrói. A extensão rural vai além de você levar a informação pra ajudar o produtor, porque ela também enriquece o nosso comportamento pessoal, da relação interpessoal. Cada família diferente, cada caso é um caso, personalidades diferentes, as conversas diferentes. Cada caso e conversa deve ser tratado de forma diferenciada. Foi uma oportunidade muito grande pra gente avaliar casos diferentes e perceber a reação do produtor a uma seca, a uma geada”, explicou Denis, agora Engenheiro Agrônomo. As visitas acontecem a cada quinze dias nos núcleos atendidos e o contato entre os estudantes e as famílias vão gerando aos poucos um ciclo de confiança no trabalho. “O projeto SOMA nos fez entender o nosso solo, nossa produtividade e perceber os motivos pelos quais nossas lavouras estavam defasadas. Na primeira análise de solo feita pelo instituto, nós ficamos abismados de ver o quanto nossa qualidade do solo estava ruim. Foi um divisor de águas, pois a partir desse diagnóstico, começamos a receber uma orientação sobre o que fazer para melhorar. O mais importante do Projeto SOMA é que ele nos mostrou que é possível melhorar a produtividade com boas práticas agrícolas - não era nada de outro mundo. E hoje, depois de alguns anos de projeto, nossas terras estão ótimas e a qualidade dos nossos cafés melhorou significativamente”, destaca o Presidente da Cooperativa de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (COCENPP), Sr. Paulo José Frasquetti. O trabalho realizado no Paraná deu tão certo que a ACENPP, em parceria com o Sebrae, desenvolveu um novo projeto para produção de cafés de altíssima qualidade: o Programa 100% Qualidade. Porém, os cafeicultores só podem participar deste trabalho as lavouras que já tiverem um nível de preparo adequado. É neste ponto que o Projeto SOMA é fundamental para os produtores. “O SOMA ajuda os cafeicultores a enxergarem seus defeitos e aponta as soluções adequadas para melhorem”, explica Rodrigo Volpe que é Engenheiro Agrônomo, Consultor do Sebrae e ex-aluno do Campus Muzambinho. O Projeto 100% Qualidade possui três consultores (abaixo) e dois deles são ex-alunos do Campus Muzambinho e participaram do Projeto SOMA: Rodrigo e Priscila Carmozini. “Dentro de sala de aula, você recebe muita teoria e mesmo com as aulas práticas, nada se compara com a experiência de ir direto ao produtor. A participação que eu tive no SOMA foi fundamental para minha atuação profissional aqui no Paraná”, conta Priscila. O Cafeicultor desconhece sua propriedade e aquilo que produzO desconhecimento frente às tecnologias é reconhecido pelos próprios cafeicultores, que cada vez mais procuram por formação especializada, inclusive com cursos técnicos e superiores do Campus Muzambinho. “A maioria dos pequenos produtores é desinformada ou então está desorientada. Com o trabalho realizado pelo Instituto, nós podemos ficar alinhados ao conhecimento científico sobre a produção do café”, revela Marco Antônio da Costa, um dos produtores atendidos pelo convênio com a AAFAPO. Todos os anos e em todos os núcleos, os produtores atendidos mandam amostras dos solos para análises realizadas no Campus Muzambinho. Com esse diagnóstico, os trabalhos sobre manejo, cultivo, controle de pragas e outras ações são indicadas aos produtores. “Não falamos em nome de nenhum tipo de produto. Nós falamos em nome da solução de um problema. Seja um produto de mil reais ou de dez mil reais, indicamos o que é adequado e melhor para o produtor resolver determinado tipo de problema”, explica o prof. José Marcos. Com as capacitações e treinamentos, o projeto busca multiplicar a capcidade dos produtores para analisarem o que eles produzem. Outro evento importante no processo é o concurso de qualidade que acontecem com os cafés produzidos em cada propriedade. O maior objetivo dessas ações é poder emitir um laudo técnico para que o cafeicultor possa conhecer sua propriedade, seus problemas e a qualidade do café que ele produz. Com essa informação, o produtor não fica a mercê dos compradores, que muitas vezes adquirem um produto de ótima qualidade por um baixo preço, pois o cafeicultor desconhece a qualidade do produto que ele está vendendo. Para realização do concurso de qualidade, os produtores mandam uma amostra do café produzido ao Campus Muzambinho, onde é feita classificação física e classificação sensorial. A partir daí, um laudo com certificação é emitido a cada participante. Além disso, é organizada também uma cerimônia de premiação aos melhores cafés analisados em cada unidade atendida. Neste processo de auxílio na venda dos cafés, o Projeto SOMA busca trabalhar sempre com a certificação dos cafés produzidos nas propriedade. Isso porque a certificação de produtos agrícolas é algo muito interessante tanto para quem compra, quanto para quem vende. O certificado expõe todo o processo de produção e isso faz com que o comprador conheça o produto que ele está adquirindo. Por conta disso, os produtos certificados valem mais, ou seja, os agricultores também ganham mais pelo que produzem. Desde o início dos trabalhos, a Certificação Fair Trade (Comércio Justo) é adotada pelos parceiros do Projeto SOMA. Além de estipular uma série de produtos que podem ou não ser utilizados, este certificado tem foco especial na agricultura familiar. Atendimento ao produtor e à famíliaA iniciativa envolve muito mais que o manejo, cultivo, colheita e pós-colheita. O projeto não ajuda somente o produtor, pois ele também atende a família. Ao possibilitar um melhor produto ou mais conhecimento sobre a venda do café, o Projeto SOMA promove uma melhoria nas condições de vida das famílias atendidas. Outros assuntos também são abordados nos dias de campo: saúde e bem-estar da família, nutrição, gravidez, uso de equipamentos de segurança (EPIs), cuidados ao mexer com produtos tóxicos, conservação ambiental. Os produtores também são muito carentes de informação sobre saúde e prevenção. Para isso, o projeto envolve a participação dos estudantes do técnico em Enfermagem e da Segurança do Trabalho. “No início, nós achamos que íamos trabalhar somente para aferir pressão e fazer teste de glicemia. Mas quando fomos a campo, nós tivemos que fazer uma minipalestra explicando sobre sinais vitais e primeiros socorros de uma forma voltada aos cafeicultores. Como meu pai é produtor rural e eu conheço como ele é, o projeto SOMA me ajudou até na forma com que eu pudesse explicar para ele a forma correta de se trabalhar com um produto tóxico, pois até então eu tinha muita dificuldade”, conta o estudante do técnico em Enfermagem, Gustavo Evangelista (foto). Confiança dos Cafeicultores e outras instituiçõesGrande parte da confiança dos produtores atendidos pelo Projeto SOMA é devido aos resultados das indicações feitas pelos estudantes. “Segui todos os passos que os alunos me orientaram e tive um resultado muito bom. Economizei cerca de dez mil reais em fertilizantes e minha produção está muito melhor”, revela Odécio Fernando de Faria, um dos produtores atendidos da cidade paulista de Caconde. Para chegar nestas orientações, o Campus Muzambinho conta com laboratórios equipados com tecnologias de última geração e muitos deles são específicos para a produção e análise da qualidade do café. Uma infraestrutura que capacita muitas pesquisas científicas e dá credibilidade e reconhecimento ao Campus como referência neste ramo. Com o crescimento dos resultados do Projeto SOMA, o Campus Muzambinho tem firmado parcerias com outras instituições de ensino. A primeira delas foi realizada com a Empresa Júnior do IFES – Campus Alegre, Caparaó Jr., que realiza um projeto semelhante ao SOMA com cafeicultores do Espírito Santo. Por conta da proximidade dos objetivos desses trabalhos, os dois institutos trocam muitas informações. Recentemente, entre 22 a 27 de outubro, sete estudantes da Caparaó Jr. vieram ao Campus Muzambinho para participar de um treinamento sobre qualidade do café. “Dentre os Institutos Federais, o Campus Muzambinho é o que possui a melhor infraestrutura e o melhor pessoal para análise sensorial e física de café do Brasil”, declarou o prof. João Batista Pavesi Simão (a esquerda), que coordena o projeto “Grãos do Caparaó” desenvolvidos no IFES – Campus Alegre. Outra parceria importante foi firmada este ano com o Centro de Inteligência de Mercados da Universidade de Lavras (UFLA). A partir deste acordo, os produtores atendidos pelo SOMA receberão ajuda para otimizar a gestão financeira das lavouras. Para isso, os estudantes que trabalham no projeto receberam um treinamento para utilizar o programa desenvolvido pelos pesquisadores da UFLA, o GEA (Gestão Estratégica Aplicada). O GEA é um serviço que leva aos produtores o conhecimento necessário dos seus negócios, proporcionando melhores condições para melhorarem suas rendas. Além disso, cria indicadores que as instituições podem utilizar para mapear ineficiências e dificuldades coletivas. Com o programa, os extensionistas têm informações relevantes para a gestão das propriedades, incluindo uma série de indicadores, como a precificação da produção, incluindo detalhamento dos custos e margem de lucro (global, por hectare, talhão produtivo e unidade). Um trabalho conjunto, coeso e coordenadoPara o Diretor-Geral do Campus Muzambinho, prof. Luiz Carlos Machado Rodrigues (foto abaixo), o Projeto SOMA proporciona um enorme diferencial para os alunos e para os agricultores. Para ele, os trabalhos voltados ao pequeno produtor são fundamentais para o desenvolvimento agrícola nacional, pois oferecem assistência técnica àqueles que mais precisam. “É interessante que nossos estudantes trabalhem junto a esse público para que esses cafeicultores desamparados continuem no seu trabalho e para que melhorem sua produção, sua estrutura rural e sejam orientados na comercialização do seu café”, comentou ele. Como o próprio nome diz, o projeto SOMA é um trabalho feito a partir de parcerias. Alunos, professores e produtores constroem juntos um trabalho de forma que todos saiam ganhando. Além disso, a iniciativa é ancorada pelo apoio da Direção do Campus Muzambinho, que dá todo o tipo de assistência necessária para que o projeto aconteça. Os estudantes também têm o apoio das instituições parceiras: do Sebrae do Paraná e da UTZ Certified. “Nós buscamos contribuir para que nossa Cafeicultura seja reconhecida no mundo e para que nós tenhamos produtores mais qualificados, voltados para uma tecnologia que atenda as necessidades atuais”, concluiu o prof. Luiz Carlos. Atualmente, o Projeto SOMA conta com a orientação dos professores José Marcos (coordenador), Roseli dos Reis Goulart, Geraldo Gomes de Oliveira Júnior, Márcio Maltarolli Quida, Larissa Sales Martins Bachião, Monise Martins da Silva e dos técnico-administrativos Marcelo Lopes Pereira (Enfermeiro) e Grasiane Cristina da Silva (Psicóloga). Além deles, a iniciativa conta com a colaboração do Coordenador de pesquisa e serviços em gestão no CIM, Diego Humberto de Oliveira. A meta do coordenador, prof. José Marcos, é atender mil famílias em cinco estados brasileiros. Oferecendo conhecimento aos estudantes e aos pequenos agricultores, o Projeto SOMA busca promover o desenvolvimento da cafeicultura no Brasil. Texto: Lucas Constantino |