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´Palavras no Chão´
Qua, 14 de Março de 2012 12:38

Em livro, professor do Campus Muzambinho analisa o papel da comunicação oral na sociedade mineira do século 18

livro_tarcisioEstudar aspectos ainda não explorados da Inconfidência Mineira e analisar como a comunicação oral influenciou movimentos sociais ocorridos em Minas Gerais ao longo do século 18. Com esse objetivo, o professor de história do IFSULDEMINAS – Campus Muzambinho, Tarcísio de Souza Gaspar, mergulhou em documentos e registros históricos para descobrir peculiaridades da sociedade colonial e os contornos que fizeram da oralidade uma caraterística marcante da linguagem no Brasil. Os resultados desta pesquisa culminaram no livro “Palavras no Chão – Murmurações e Vozes em Minas Gerais no Século XVIII”, lançado na noite do dia 13 de março, no auditório do Campus Muzambinho.

A ideia de falar sobre o tema surgiu durante a pesquisa de mestrado do professor, iniciada em 2005. A dissertação foi concluída em 2008 e apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), mas o trabalho foi adiante. Segundo Tarcísio, foram seis anos se dedicando ao projeto. Além da Inconfidência Mineira, em Ouro Preto, o livro trata de revoltas que aconteceram nas cidades de Sabará, Mariana e na região Norte do estado, onde hoje fica o município de Januária. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é um dos personagens centrais da obra. “Voltei ao início do século 18 para levantar os antecedentes da Inconfidência Mineira, entender por que Tiradentes falou o que falou, de onde ele tirava suas reflexões”, explicou.

Ao longo da narrativa, o autor traz à tona episódios curiosos da vida do revolucionário, deixados de lado pela história positivista. “Uma das passagens interessantes envolve uma ação feita durante as articulações do movimento. Tiradentes era frequentador inveterado de prostíbulos e, em uma dessas idas, ele prometeu um prêmio para três prostitutas, chamadas preconceituosamente de ‘pilatas’. Pilata, no século 18, significava pia de água benta, onde todos botavam a mão. Tiradentes prometeu ajuda a essas meninas, caso ele se tornasse o herói da revolta. Mais tarde, a história foi parar no processo de investigação da Inconfidência e ele teve que responder por isso. Até as prostitutas foram chamadas para depor no processo e confirmam essa passagem”, conta Tarcísio.

Para o professor, os resquícios da oralidade que marcava a sociedade colonial permanecem fortes no comportamento da população de Minas e também do Brasil. “O hábito de ler e escrever ainda é precário entre nós. Temos uma cultura antropológica rica oralmente, mas, em contrapartida, a riqueza da expressão escrita fica em segundo plano. Parte daí o sucesso das novelas e filmes dublados. Nossa sociedade tem muita dificuldade em lidar com a escrita e a leitura”, comenta.

Publicado pela Annablume Editora, com apoio da Fapemig, o livro teve seu lançamento feito exclusivamente em Muzambinho.

Texto: Joarle Magalhães/ Comunicação - IFSULDEMINAS